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"O AMOR FAZ NASCER FLORES EM LUGARES DESCONHECIDOS E DESPERTA A LUZ ONDE PODERIA HAVER TREVAS"


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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O menino Vodú (Parte II )




(Na primeira parte do conto eu havia publicado o nome do acampamento como sendo "Salazar",mas na verdade é Cipreste;Já corrigi o erro)


  O incêndio deixou o acampamento Cipreste completamente destruído,sobrando para a família Salomão somente os animais que eles criavam que eram  cavalos,galinhas,porcos e também um baú com as joias da família que estava enterrado ,visto que eles temiam ladrões.
   Toda a família chorava muito ao ver que quase todos os bens que eles tinham conseguindo durante toda uma vida,em um pouco espaço de tempo tinha sumido sem que eles dessem permissão.
   Kiril Salomão,Madame Dara,Milena,Ygor,Starlina,Richenda e Ephraim choravam ajoelhados no chão coberto e lama e se perguntavam o porquê que Santa Sara deixou aquela tragédia acontecer e,no entanto o pequeno recém-nascido Dimitri dava boas gargalhadas.
   -Ephraim, faz este menino parar de rir por amor aos nossos ancestrais! –disse o patriarca da família.
   -Eu não consigo meu pai,e nunca vi na minha vida um recém-nascido rir deste jeito. Eles costumam somente mover os lábios,mas não rir desta altura.
   -Ele está me tirando do sério.
   -É apenas um bebê.
   -Você lembra-se do sonho que tivemos?
   -Lembro sim.
   -Lembra que no sonho no lugar do sol tinha um rosto que chorava e ria ao mesmo tempo?
   -Aham.
   -Olhe pro céu e veja que na frente do sol as nuvens formaram um rosto feio e aqui na terra enquanto nós choramos o seu filho está rindo. Ele é uma maldição que trouxe tristezas para a nossa família.
   -Meu pai,nunca mais torne a falar isto. O meu filho é abençoado e não tem culpa dos acontecidos.
   -Por favor, meu filho, o faz parar de rir.
   -Eu não consigo.
   -Eu te imploro,faz esta desgraça para de rir.
   -Ele não quer parar e quanto mais pede,mais ele ri.
   -Esta criança é uma criatura do mal e estou perdendo a paciência com ele.
   -Se o Senhor continuar a fala mal do meu filho nós vamos acabar discutindo.
   -Você a mãe dele geraram um bebê do capeta e se este menino não parar de rir eu vou mandar vocês embora do acampamento.
   -Que acampamento? –Ephraim tira um sarro na cara do pai ao ver que não tinha sobrado nada do acampamento.
   -Mais que desgraça –muito irritado com as perdas e o choro da criança, Kiril tem um desejo maligno- tomara que um raio caia e parta este menino infernal e os pais dele ao meio.
   KAAAABRRRUUUUMMMMMMMMMMM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
   Toda a terra tremeu quando um barulho e um clarão muito forte surgiram no local jogando as pessoas a alguns metros de distância; Com o chão molhado uma onda de choque fez com que todos sentissem a eletricidade percorrer as suas veias .
   Após Ephraim voltar a si do pequeno desmaio, ele acordou a esposa Richenda que estava ao lado,viu o seu filho sentado e rindo,mas o seu coração quase parou ao notar que seus pais e seus irmão estavam mortos,queimados e com os corpos partidos ao meio com consequência dos cinco raios que caíram no local.
   Os corpos estavam irreconhecíveis e Ephraim chorou ao lado da esposa ao ver que a sua família e sua casa não existiam mais. Uma enorme tristeza adentrou o seu coração,pois ele sabia que o desejo do pai no momento da raiva retornou a ele mesmo em forma de vingança, o matando juntamente com a sua mãe e irmãos tão queridos.
   Em uma conversa franca com a esposa Ephraim desabafa:
   -Meu bem,isto foi muito estranho e estou começando a crer que Dimitri foi o culpado.
   -Será que foi ele?
   -Lembra que quando casamos você não poderia ter filho e procuramos o feiticeiro vodú para dar um jeito?
   -Lembro sim.
   -E agora no mesmo instante que meu finado pai desejou que um raio caísse em nós e nos partissem ao meio,o mesmo aconteceu a ele e minha família e isto pode ter sido obra de Dimitri.
   -Ele é apenas um recém-nascido e nem consegue pensar direito.
   -Você viu o jeito que ele ria sem parar?
   -Isto foi bem estranho mesmo.
   -Nenê desta idade não da gargalhada.
   -E que vamos fazer agora? –perguntou Richenda desesperada.
   -Alguém deve ter visto a fumaça do incêndio e então acredito que não vai demorar pra começar a chegar gente aqui. Vamos desenterrar o baú com as joias,pegar uns três cavalos,matar um porco que vai servir de alimento e vamos dar o fora o mais rápido possível.

   Um fazendeiro vizinho foi o primeiro a chegar ao antigo acampamento Cipreste e logo chamou a policia.
   Os investigadores concluíram que a tragédia foi obra da natureza em fúria ,e como os mortos não tinham documentos foram enterrados como indigentes em covas doadas pela prefeitura de Ribeirão Preto.
   Ephraim e Richenda  venderam algumas joias da família no mercado negro da praça XV de Ribeirão Preto e logo conseguiram dinheiro para comprar um terreno e alguns bens materiais e montaram acampamento as margens do córrego da via norte.
   O terreno era grande e por ser deles a polícia não os incomodavam, e assim eles criaram Dimitri sem ter problemas durante grande parte da sua infância.
   Eles não voltaram a encontrar os ciganos que estavam na festa de Dimitri e com o passar do tempo algumas das tradições milenares da sua raça foram completamente abandonadas.
   Sempre desconfiaram que Dimitri poderia ter sido a causa dos incidentes no acampamento Cipreste,mas como o menino se portou como uma criança normal,esta suspeita logo foi esquecida.
   Richenda cuidava do menino o dia inteiro e Ephrain Salomão se envolveu na compra e venda de ouro, e outras joias que geralmente eram produtos de furtos que os ladrões e traficantes levavam até ele.                       Ele começou neste ramo após começar a vender o resto das joias da família o que lhe deu um bom lucro e despertou interesse dos criminosos nas proximidades e desta maneira ele se tornou um receptador bem famoso entre os militantes.
   Levavam uma vida tranquila até que aos nove anos de idade Dimitri roubou do pai um cordão de ouro avaliado em R$3.000,00 e trocou com um quadro pintado por um artista local e ao chegar em casa Ephraim o questionou:
   -Dimitri,você viu um cordão de ouro que estava aqui na estante?
   -Não vi não meu pai.
   -E aonde arrumou dinheiro para comprar este quadro com os cavalos pintados que está em suas mãos?
   -Eu ganhei o quadro.
   -Tem certeza?
   -Tenho sim.
   -Então eu devo ter guardado o cordão em outro lugar. –finalizou Ephraim.

   O homem que trocou o quadro com o cordão de ouro de Dimitri, falou pra polícia que o menino tinha entrado em sua casa durante a noite e furtado aquele bem material.
   Os investigadores invadiram a casa de Dimitri,mas não encontrou o quadro e por sorte também não acharam as joias do pai que estavam enterradas no quintal.
  Dimitri estava na rua quando um investigador o capturou,e o levou para uma fábrica abandonada afim de fazer um pequeno interrogatório:
   -Porque você furtou o quadro?
   -Eu não furtei. –com os olhos demonstrando revolta respondeu Dimitri.
   -O rapaz falou que você entrou na casa dele e o furtou.
   -Eu falei que não roubei esta porcaria seu filho da puta desgraçado.
   O policial sem pensar meia vez deu-lhe um tapão na orelha,só que o menino permaneceu imóvel e quem sentiu a força brutal do tapa foi o polical que rodopiou e caiu no chão com o ouvido zunindo.
   Ele se levantou do chão olhando para os lados e não viu ninguém,mas ouviu Dimitri com a mesma gargalhada que ele havia dado quando era recém-nascido.
   Neste exato momento toda a magia negra que habitava os órgãos de Dimitri se revaleram, e as forças vodú do seu EU superior ascenderam em seu coração maligno ,o ódio que estava adormecido durante nove anos,seis meses,quatro dias,uma hora e doze segundos enfim se despertou.
   -Você gosta de bater em crianças né? –perguntou Dimitri com uma voz assustadora.
  -Quem é você?
  -Eu era o sonho e agora sou o pesadelo.
   O investigador com muita agilidade aplicou um golpe de capoeira no tórax de Dimitri, só que quem sentiu a pancada foi o próprio policial que voltou a cair no chão.
    A esta altura o medo já dominava aquele ser mortal que sacou do seu revolver calibre 38 e ordenou:
   -Parado se não eu atiro!
   Sem demonstrar qualquer reação que obedecesse a ordem da polícia, Dimitri continuou andando até que seis disparos certeiros atingiu o peito do menino.
   O policial,pois a mão esquerda no peito e sentiu o sangue molhando a sua camisa branca que a cada segundo ficava mais encharcada e veio a óbito no mesmo momento.
   O menino deixou a fábrica e após cuspir no corpo do investigador saiu rapidamente em direção à casa da pessoa que trocou o quadro com ele.

   TOC,TOC,TOC,TOC....
   Jefferson ouviu alguns batidas no portão de sua casa e foi atender,mas ao abrir o pintor de quadros deu de cara com Dimitri que o olhava com desprezo.
   -Lembra-se de mim seu infeliz? –perguntou o menino com raiva ao extremo.
   O menino apenas tocou no braço do artista que sentiu os seus cabelos caírem,sua pele ficar enrugada e a fraqueza invadir os seus ossos.
   -O que você quer de mim seu monstro?
   Dimitri respondeu com uma gargalhada que se ouviu a centenas de metros:
   -Vim te ensinar a não mentir sobre uma criança.

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