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"O AMOR FAZ NASCER FLORES EM LUGARES DESCONHECIDOS E DESPERTA A LUZ ONDE PODERIA HAVER TREVAS"


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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A flor da inocência (Conto)

Imagem do Google
    

    O inverno foi bastante rigoroso na fazenda Recanto Feliz, situada no município de Batatais, estado de São Paulo. As fortes geadas destruíram por completo as plantações, hortaliças e o pequeno jardim na casa de Maria Ângela de Medeiros. Maria era uma menina de 12 anos, mas que se aparentava 14 por causa do seu porte físico avantajado que herdara do seu pai. Era uma menina esbelta, loura, olhos verdes e arregalados e dona de um sorriso exuberante que conquistava a todos. A sua mãe Madalena da Silva Medeiros de 34 anos tinha os mesmos traços da filha, porem mais alta, e o seu pai Leopoldo Medeiros tinha 37 anos de idade e com os seus 1,98 cm causava inveja a qualquer halterofilista, usava bigode sempre bem aparado, sorriso cauteloso, cabelos castanhos e ondulados e possuía imensos olhos negros. Ele era o novo retireiro da fazenda.
     A família veio da cidade de Altinópolis e o desemprego naquela região fez com que se mudassem para a fazenda Recanto Feliz.
     A casa que a família Medeiros foi habitar era pequena,porem confortável. Tinha uma sala de paredes amarela,uma cozinha com fogão a lenha,um pequeno banheiro e dois quartos. Os móveis eram antigos,mas bem conservados e inúmeros quadros enfeitavam as paredes de tijolos sem reboco.Aos fundos da casa tinha  imenso quintal com diversas árvores frutíferas,um galinheiro,um chiqueiro,uma horta e o que mais tinha chamado a atenção da menina era um jardim que ficava na frente da sua residência e que estava completamente seco por causa das fortes geadas dos meses de junho e julho.
     Desde o primeiro dia em que Maria Ângela mudou para esta casa ela ficava olhando com admiração aquele jardim e imaginava em seus sonhos ele bem florido onde colhia flores coloridas e entregava-as para a mãe.
     O inverno já se passara e os dias mais quentes e algumas chuvas anunciavam que a primavera tinha chegado com força total e devagar as árvores e as plantações secas iam ganhando vigor e voltavam a encher os olhos das pessoas com uma beleza ímpar.
     No fim de mais um dia de trabalho, Leopoldo chega a sua casa e quando ia bater na porta da frente é surpreendido pela filha:
     -Pai, como foi o seu dia de trabalho?
    -Oi minha filha linda,o pai trabalhou bastante e estou cansado e você não deu trabalho para a sua mãe não né?
     -Não dei trabalho não pai, e fiquei ajudando a minha mãe a limpar o galinheiro e recolher os ovos.
     -Onde esta a sua mãe?-pergunta Leopoldo com os olhos vasculhando os cômodos da casa.
     -A minha mãe esta tomando banho.-respondeu Maria com o seu sorriso sempre contagiante.
     -Enquanto ela acaba de tomar banho eu vou pegar um enxadão e vou começar a arrancar este jardim horroroso que esta na frente de casa.
     Maria Ângela começa a chorar e aos gritos implora para o pai:
     -Nãããão pai,pelo amor de Deus não faz isso não. Estou esperando o jardim dar flores pra eu colher pra mamãe e se o senhor acabar com ele os meus sonhos vão-se embora. O jardim é a parte da casa que mais gostei e mesmo estando seco eu sei que um dia ela vai voltar a florir. Faz parte da natureza e o ciclo das estações ao se renovarem traz contigo os fenômenos que nós humanos não compreendemos,porem diversificam os aspectos terrestre.
     -Como sempre és muito inteligente minha filha,mas o jardim esta seco e feio,não tem uma folha verde nos galhos das plantas,a grama em péssima condição e do jeito que ele esta não tem serventia para nada a não ser pra juntar bicho.
     -Pai,hoje eu vi na casa da sede um jardineiro mexendo nas plantas e é só pedir para ele vir aqui arrumar o nosso jardim também uai!
     -Não sei se vou ter dinheiro- reclama o pai- e também precisa ver se ele tem tempo pra arrumar este maldito jardim feio.
    A conversa é interrompida com um forte grito vindo do banheiro:
   -Aiiiiiiii,socorroooooooo!
  -É a sua mãe,o que será que houve com ela Maria?-desesperado Leopoldo corre até ao banheiro- Madalena,o que esta acontecendo?Que grito foi este,me responde por favor!
     Com todo este desespero Maria que já estava chorando pede para o seu pai salvar a sua mãe e Leopoldo usando das suas forças arromba a porta do banheiro e vê a sua esposa caída ao chão e com a cabeça ensanguentada devido à queda que ela sofrera após um escorregão.
     Sem pensar duas vezes Leopoldo sai implorando por socorro pelas ruas da fazenda e o jardineiro Luís Rezende ouvindo a gritaria sai detrás das moitas de murta,pega a sua camionete e pressentindo o pior chega à casa de Leopoldo que já o esperava com sua esposa desmaiada nos braços.
     Luís,Leopoldo e Madalena entram na camionete e sai a toda,levantando poeira pelas estradas de terra.
     No meio do caminho Leopoldo contrata o jardineiro para arrumar o jardim da sua filha. Madalena acorda do desmaio e, no entanto não se lembrava de nada e quando o médico a diagnosticou informou ao seu marido que a queda a fez ter uma perda de memória que poderia ser passageira ou durar longos anos.
     - Sr. Leopoldo- finaliza o médico- a sua esposa não esta se lembrando de nada do passado e ela precisa alem de tomar os remédios que receitei receber muito carinho,pois somente assim ela poderá voltar ao normal. Dê a ela coisas que a faça lembrar-se de algum momento de suas vidas e reze pra Deus conceder uma graça!
     Leopoldo,sua esposa e o jardineiro voltam para a fazenda aonde a menina Maria esperava ansiosa pelos pais,porem ao ver o estado da mãezinha as lágrimas novamente preenchem sua face angelical. A sua mãe era tudo para ela. Era o seu apoio,o seu ar,a sua água,o seu sol e a sua lua. 
     O pai avisa a filha:
     -Maria Ângela, amanhã cedo o jardineiro vai vir trabalhar aqui em casa e te peço que nestes dias de o máximo de carinho pra sua mãe,pois o médico disse que o carinho pode ser fundamental na recuperação dela.
     -Esta bem meu pai,farei tudo o que for possível para ela melhorar.
     O trágico dia se foi e a noite chuvosa fez com que a água cristalina aliviasse a sede das terras da fazenda Recanto Feliz,o próprio jardim que estava seco sentiu a presença do liquido divino e já demonstrava renovação.Madalena dormiu a noite inteira,Leopoldo ficou ao lado da esposa impaciente e Maria Ângela dormindo no quarto ao lado sonhou que passeava no jardim junto com a sua mãe que sorria entre as flores.
     O dia amanheceu e junto com a luz do sol o jardineiro Luís Rezende chega à casa de Leopoldo que o encontra e mostra o jardim e pedi para ele conversar bastante com a sua filha para ela se interter com o jardim que tanto queria e esquecer-se dos problemas que a mãe estava passando.
     Naqueles dias a menina não foi à escola por causa da mãe doente e ia ficar em casa o dia,ela acorda da um beijo na mãe e vai no jardim onde se encontrava o jardineiro e logo apresenta a ele o seu carinho:
     -Bom dia moço!
     Responde o jardineiro surpreso com a graciosidade da menina:
     -Bom dia menina bonita,seu pai me disse que este jardim é seu?
     -É sim moço,e quero que você deixa ele bem bonito pra mim ta. Eu sonhei que eu e a minha mãe estava passeando nele.
     -Que bom e então vou te ensinar a como que plantar as roseiras, só que tem que ter bastante amor para a rosa crescer e dar lindos botões.
     -Esta bem moço.
     -Eu trouxe estes galhinhos que são galhos de uma roseira que eu tenho lá em casa e agora você vai pegar um galho deste,vai ter cuidado com os espinhos e depois você vai fazer um buraco na chão,colocar um pouco de esterco e o galho na terra e vai jogar um pouco de água lembrando sempre que tem que ter muito amor.
     A menina segue todos os passos indicado pelo seu novo amigo jardineiro e após plantar a sua roseira ela a batiza de Esperança.
     Em um único dia Luís arruma todo o jardim e pede para Maria Ângela jogar água nele bem cedinho e a tardezinha.
     Na hora que o seu pai chegou do trabalho ele encontra a filha aguando as novas plantas e ela abandona os afazeres e vai logo correndo abraçar o pai e lhe informa que ajudou o jardineiro e que plantou a sua própria roseira que se chama Esperança.
     O pai fica orgulhoso da filha e os dois entram em casa e vão até o quarto onde estava Madalena que falava pouquíssimas palavras.
     Os dias se passaram e Maria Ângela todo dia jogava água no seu jardim conforme havia pedido o jardineiro.
     Numa noite a menina conversando com o seu pai perguntou:
     -Pai,porque as flores não falam?
     -Minha filha,as flores falam sim só que de uma maneira diferente da nossa. Tem vez que a flor fala em perdão,outra vez fala de amor,outrora fala de aniversário e teve um dia que um lindo buquê de rosas vermelhas falou pra sua mãe que eu queria casar com ela. Quem entrega uma rosa fica com o coração mais feliz e que a recebe senti que a alma exala os seus doces perfumes.
     -Será que minhas rosas vão falar alguma coisa?
     -Eu tenho certeza que sim minha filha!
     Dia após dia Madalena não demonstrava sinal de melhora,porem o jardim de Maria estava florido e a roseira Esperança apesar de estar recheada de folhas verdes ainda não tinha dado nenhum botão de rosa.
     No dia 11 de Outubro Maria Ângela entra em casa toda sorridente:
     -Pai,a minha roseira deu o primeiro botão.
     -Que bom minha filha. 
     -Só que vou colhê-la amanhã que é dia das crianças e de Nossa Senhora Aparecida.
     -Que ótima ideia e tenho certeza que a rosa irá te falar alguma coisa.-responde o pai todo contente com a esperteza da filha.
     O dia se foi,mas a noite parecia ser eterna. Maria Ângela não dormiu um segundo sequer e pensava com fervor na roseira Esperança. Ela abriu a janela e vendo as estrelas pedia aos anjos para cobrir a sua mãe com asas douradas e assim fazê-la lembrar que ela era a sua mãe.
     Os segundos que se tornaram mais lentos conseguiram completar as suas voltas e os galos já anunciavam um novo amanhecer e a menina correndo vai até a cozinha onde o seu pai preparava um café e retirava um bolo do forno:
     -Pai,eu quero que o senhor veja uma coisa.
     -Que coisa minha filha?
     -Vem comigo até o jardim!
     Os dois saem de casa e vão ao jardim. A menina com uma tesoura na mão corta o botão de rosa e entre alguns comentários fala ao seu pai:
     - Pai,estes dias eu tive um sonho e no meu sonho eu juntamente com a minha mãe andávamos pelo jardim e eu colhia todas as flores para dar a ela,só que ela esta tão doente que nem me reconhece como filha e eu fico triste por causa disto,porem esta primeira rosa eu vou dar pra mamãe. 
     -Filha,faça o que o seu coração mandar que com certeza coisas boas acontecerão!
     O botão de rosa já estava entre os pequenos dedos de Maria Ângela e junto ao pai os dois adentraram o quarto de Madalena:
     -Mãe.- chamou a menina.
    Madalena acordou furiosa e reprimi a filha:
     -O que você quer menina,já disse que não sou nada sua e por favor me deixa em paz.
     A menina não se abala com estas palavras e caminhando lentamente coloca a flor nas mãos da mãe que ao cheirá-la começa a chorar e diz:
     -Obrigado minha filha,eu não sei o que aconteceu estes dias,mas sei que este é o dia mais importante da minha vida. Venha aqui dar um abraço na mamãe vem.  
    Maria Ângela corre e pula no colo da mãe e no abraço mais quente entre dois seres humano e a menina olha para o pai e fala:
      -Pai,um dia o senhor quis destruir o meu jardim e se não fosse este mesmo jardim,hoje a minha rosa não estaria falando “SALVAÇÃO”.

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